Cirrose
Vitamina D3 na cirrose hepática alcoólica
Na doença hepática o comprometimento nutricional está relacionado com alterações no estado de micronutrientes, presença ou não de ingestão alcoólica e com o grau de comprometimento da função hepatocelular. Reconhecidamente, o estado vitamínico-mineral está deficiente com a redução da ingestão energética, uma das principais causas de desnutrição protéico-energética na cirrose hepática.
Há ainda de se ressaltar os hábitos alimentares distorcidos (má qualidade da dieta) dentre os alcoolistas crônicos e indivíduos com hepatopatia. Paralelamente, pode existir o déficit de micronutrientes, independente da redução da ingestão energética, pela simples adição de álcool à ingestão energética usual, de modo independente da presença de doença hepática.
Assim, o álcool pode ser causa tanto de desnutrição primária, pelo fato de deslocar os nutrientes da dieta, como de desnutrição secundária, por ser responsável pela má absorção e agressão celular decorrentes de sua citotoxicidade direta.
Vitamina D e doença hepática
Ao alcançarem o fígado, a vitamina D sofre hidroxilação no carbono 25, mediada por uma enzima microssomal da superfamília do citocromo P450 (CYP450) denominada CYP2R1, dando origem a 25-hidroxivitamina D ou calcidiol (25(OH)D3 e 25(OH)D2). A CYP2R1 é uma enzima microssomal expressa preferencialmente no fígado.
Nos pacientes com doença hepática as deficiências de vitaminas lipossolúveis são frequentes. Tal fato decorre do fígado estar envolvido no metabolismo das vitaminas lipossolúveis, como a vitamina D3. A prevalência de hipovitaminose D promove uma alta taxa de osteopenia em pacientes com doença hepática alcoólica entre 34 a 48% e de osteoporose entre 11 a 36%. Em estágio avançado a doença hepática alcoólica é considerada um fator de risco para o agravamento e desenvolvimento da osteoporose.
Estudo
Estudo conduzido por Savic et al. (2018) teve como objetivo avaliar os efeitos da suplementação de vitamina D e os escores de Child-Pugh em pacientes com cirrose hepática alcoólica. Os escores de Child-Pugh são usados para avaliar o prognóstico da doença hepática crônica, principalmente da cirrose. Embora tenham sido usado originalmente para predizer a mortalidade durante a cirurgia, a escala é usada atualmente para determinar o prognóstico, assim como a necessidade de transplante hepático.
Pontos Classe Sobrevida Sobrevida
70 indíviduos com cirrose hepática alcoólica e que não ingeriam álcool foram selecionados para participarem
deste estudo clínico e receber a seguinte posologia de vitamina D.
Grupo Tratamento
Vitamina D3
1000 UI ao dia
Resultados
• O estudo foi completado com 50 pacientes. O nível médio de vitamina D3 foi de 60,73, 50,53 e 26,71 nmol/l, respectivamente para a escala Child-Pugh classes A, B, e C;
• Durante a suplementação com vitamina D3 foi observada uma aumento significativo nos níveis desta vitamina após seis meses de tratamento;
• Os pacientes que se enquadravam na classe C apresentaram um melhora mais consistente após um ano (p<0,05);
• No final do estudo 2 de 7 pacientes inicialmente classificados como classe C foram alterados para classe A, 4 pacientes da classe C foram alterados para classe B e 1 paciente permaneceu na classe C;
• 17 pacientes inicialmente na classe B 11 foram alterados para classe A e 6 permaneceram na B.
Conclusão
Em pacientes com cirrose hepática alcoólica níveis elevados de vitamina D3 foram relacionados com melhoras nos escores de Child-Pugh. A suplementação de 1000 UI dia de vitamina D3 apresentou melhoras significativas após seis meses de tratamento. Houve diminuição dos escores de Child- Pugh com redistribuição dos pacientes em diferentes classes.
SUGESTÃO DE FÓRMULAS
Melhoras dos escores de Child-Pugh
Vitamina D3______________________1000UI
Tomar 1 dose ao dia.
Redução da severidade da esteatose não-alcoólica
Curcumina*______________________500mg
Vitamina D3______________________1000UI
Tomar 1 dose ao dia.
Melhora da função hepática
Silimarina***______________________210mg
Vitamina E________________________18mg
Vitamina D3_______________________1000UI
Tomar 2 doses ao dia.
Redução da inflamação e das enizmas hepáticas na DHGNA**
Lactobacillus casei______________2x10 8 UFC
Lactobacillus rhamnosus_________2x10 8 UFC
Streptococcus thermophiles_______2x10 8 UFC
Bifidobacterium breve____________2x10 8 UFC
Lactobacillus acidophilus_________2x10 8 UFC
Lactobacillus bulgaricus__________2x10 8 UFC
Bifidobacterium longum__________2x10 8 UFC
Vitamina D3_____________________1000UI
FOS____________________________125mg
Tomar 1 dose ao dia.
*Rahmani et al. (2016) examinaram os efeitos da curcumina no conteúdo lipídico hepático e também nos parâmetros antropométricos e bioquímicos em pacientes com esteatose gordurosa não-alcoólica.
• De acordo com os resultados e comparado com o grupo placebo, a curcumina foi associada com uma significativa redução do conteúdo lipídico hepático (78,9% de melhora vs. 27,5% de melhora);
• Também foi observada redução no IMC, colesterol total, LDL-colesterol, triglicerídeos, AST (aspartato aminotransferase), ALT (alanina aminotransferase), glicemia, hemoglobina glicada comparada com o grupo placebo.
**Um estudo conduzido por Mofidi et al. (2017) teve como objetivo avaliar os efeitos da suplementação de simbióticos na DHGNA (Doença Hepática Gordurosa Não-Hepática) em pacientes com IMC baixo ou normal. Após o período de tratamento a esteatose hepática e a fibrose foi diminuída de maneira mais significativa no grupo 1 quando comparada com o grupo 2 (p<0,001). Os níveis de glicose em jejum e os mediadores pró-inflamatórios (TNF-α, NF-kB e hs-PCR) reduziram no grupo 1 quando comparado com o grupo 2 (p<0,05).
***O tratamento associado com silimarina e vitamina E promoveu melhora da função hepática em pacientes com DHGNA, sendo uma alternativa eficaz, particularmente para os indivíduos não responsivos às terapias padrão ou que apresentam contraindicações (Aller et al., 2015).
Referência
Savić Ž1, Vračarić V1, Milić N2, Nićiforović D3, Damjanov D1, Pellicano R4, Medić-Stojanoska M5, Abenavoli L6. Vitamin D supplementation in patients with alcoholic liver cirrhosis: a prospective study. Minerva Med. 2018 Jul 2. doi: 10.23736/S0026-4806.18.05723-3. [Epub ahead of print] Rahmani S1, Asgary S2, Askari G1, Keshvari M2, Hatamipour M3, Feizi A4, Sahebkar A5,6. Treatment of Non-alcoholic Fatty Liver Disease with Curcumin: A Randomized Placebo-controlled Trial. Phytother Res. 2016 Sep;30(9):1540-8. doi: 10.1002/ptr.5659. Epub 2016 Jun 8.
Mofidi F1, Poustchi H2, Yari Z1, Nourinayyer B3, Merat S2, Sharafkhah M2, Malekzadeh R4, Hekmatdoost A1. Synbiotic supplementation in lean patients with non-alcoholic fatty liver disease: a pilot, randomised, double-blind, placebo-controlled, clinical trial.Br J Nutr. 2017 Mar;117(5):662-668. doi: 10.1017/S0007114517000204. Epub 2017 Mar 27.
Aller R, Izaola O, Gómez S, Tafur C, González G, Berroa E, Mora N, González JM, de Luis DA. Effect of silymarin plus vitamin E in patients with non-alcoholic fatty liver disease. A randomized clinical pilot study. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2015 Aug;19(16):3118-3124.